segunda-feira, 16 de agosto de 2010

vamos falar de carne?

Olha só, sabe a rua da quitanda? Então, pega ela, desce uma.. duas.. três quadras... aí você vira a esquerda e é a terceira casa desse quarteirão mesmo, uma de portãozinho marrom... não, não tem erro não, é entre dois terrenos baldios...

Vamos falar de carne?


Na frente do portãozinho marrom tinha um cachorro sujo, deitado, fedido, cheirando a carniça daquelas que já deixaram de apodrecer já fez uns 6 dias... quando alguém passava, ele só fazia companhar com os olhos, não se sabe se por preguiça ou se porque não conseguia.
Ao passar pelo cachorro se depara com aquele tal portão marronzinho... de ferrugem já né, de tão velho que está...
Quando sua mão já está bem próxima de tirar o trinco já aberto do portãozinho, ouve uma voz grossa, meio esgarçada, vindo de trás.

_Moço? Ô Moço! O senhor é o moço que veio pra olhar a casa fedida? (é uma senhora de uns 40 anos, com alguns quilos a mais, cabelo comprido, semi-corcunda, com a bunda pra dentro)
_Hum...é, acho que sou eu mesmo... (olhando)
_Ai, graças a Deus! Fui eu quem chamou, sou a Ruth, prazer. (se oferecendo pra dar um beijinho no rosto)
(o beijinho é dado)
_Hum... bom, eu sou o Carlos, mas o pessoal já deve ter te informado quem vinha...
_Ah não, não informaram não, mas pra ser bem sincera eu já sabia, viu... é que uma amiga
da minha prima trabalha na padaria do lado da sua repartição, e ai o Dieguinho, lá da delegacia mesmo, sabe? Então, ele tá saindo com essa amiga da minha prima, aí eu pedi pra minha prima ver com essa amiga dela se ela sabia quem era que ia vir ver o meu caso... sou muito curiosa, sabe? (ela tinha de saber se era um homem bonito ou não)
_Hum...entendi...bom, já que a senhora está aqui podia me dar mais detalhes do caso... o que é que
anda acontecendo?
_Bom, primeiro a senhora está na céu... Me chame de “você”, tá bem, meu bem? Pois então,
Carlinhos, eu me mudei pra cá há pouco, sabe? Estava na Europa, morei uns tempos em Paris, em Roma, fiquei um pequeno período em Londres, também vivi na Espanha, na Holanda, em Portugal... Passei um bom tempo por lá sabe, eu AMO aquele lugar... Mas infelizmente tive de voltar pra esse paisinho aqui... minha irmã pediu pra eu redecorar essa casa aqui pra ela... e eu não pude recusar sabe... irmã... já viu como é...
_Hum...sei.
_Então, ai eu vim parar aqui nesse fim de mundo, mas não tem problema não viu, porque acima de
tudo eu sou muito humilde, não me importo com essa vizinhança barulhenta e fofoqueira, com essa pirralhada jogando aquela porcaria de futebol no portão da casa de minha irmã, nem com aquele mendigo louco e imundo que passa todo dia pedindo coisas, acredita? Hahahahaha, ai ai...
_Hehe.
_Bom, isso tudo eu até suporto sabe, mas essa casa da frente Carlinhos...ai essa casa da frente! Desde o dia que eu cheguei já vi esse casebre caindo aos pedaços e com esse vira-lata idiota ai na frente já achei que fosse abandonada e já pensava em mandar minha querida irmã compra-lá para que a redecoração da casa pudesse se tornar uma pequena reforma, ia ficar divino, ainda mais pra essa espelunca de bairro... Ai eu acabei falando com a vizinha da casa de baixo e ela disse que tem gente que mora lá sim, mas não me falou muita coisa mais sabe...é uma mulherzinha aquela lá, viu Carlos, e ainda pensa que ninguém sabe que ela trai o marido com o encanador que vai lá todo santo dia, mas eu sei de tudo e olha que estou aqui não faz nem 2 semanas.
_Certo, bom, mas quanto a casa...
_Sim, vou continuar falando, você me interrompe, oras... bem, acho que foi antes de
anteontem, ouvi um grito muito alto vindo de lá, um não, diversos, gritos de homem, duraram uns dois minutos, e depois, mais tarde, subiu cheiro horrível, e ficou perdurando até ontem mais ou menos. Eu perguntei pra vizinha vadia e pra outras pessoas se elas tinham ouvido, mas elas claramente desconversavam, sabe? Bando de gentinha...
_Hum... ok... o registro da casa está em nome do Sr. Antonio Coelho de Suntra, e pela
documentação parece que ele é o morador aí já fazem 5 anos e nunca deu problema... A senhó...você o viu sair depois desse dia dos gritos?
_Carlos, eu NUNCA vi esse homem sair de casa, será que tá difícil de entender isso? Eu
só ouvi esses gritos e fiquei desesperada sabe, ninguém me falava nada, então chamei vocês!
_Tá certo, então vou entrar lá e conversar com esse tal de Antonio...você fique
aqui por favor. (Aliviado)
_Tudo bem Carlinhos, eu que não ia querer entrar naquela casa imunda mesmo, vou pra
casa de minha irmã, se puder por gentileza passar lá após ver o que aconteceu...para tomar um chazinho mesmo... não deixe de vir, está bem? (com a mão no ombro de Carlos)
_Ok, ok...
_Vá lá então, cuidado hã...


Ruth se afasta em direção a sua casa. Carlos fica um pouco pensativo e se surpreende
parado. (estava pensando na quantidade de coisas desnecessárias que aquela mulher conseguiu falar em tão pouco tempo - e em como ela se parece com sua tia Raquel - e pensa em relações de nomes e se isso faz sentido ou não) Sem mais delongas segue em direção a casa de portão marrom. O cachorro se mantém intacto, salvo por um ruído que parece um bocejo de boca fechada. Se é que isso é possível. Carlos adentra.

_Sr. Antonio?! (em voz tranqüila) barulho do portão se abrindo é maior que o volume de sua voz.
_Sr. Antonio!!(já levantando um pouco a voz)
_Eita...(lamentando nenhuma resposta)
_SR..ANT..!
_Pois não?

A interrupção duma frase costuma causar um pequeno instante de silêncio e até
mesmo um leve engasgar no interrompido, ainda mais quando a voz que o interrompe sai de surpresa das costas do orador inicial. É de dar calafrios.

Vira-se suavemente, ainda meio assustado e se deparo com esse homem abatido, com olheiras profundas, nem o moletom velho e surrado disfarça o quão magro ele é. O cabelo ralo e um sorriso carismático, causam simpatia o suficiente pra lhe acalmar do susto.

_Minha nossa, Sr. Antonio! Que susto! Hehe, digo, você é o Sr. Antonio, certo?
_Hehehe, me desculpe, não queria assutá-lo, Sr...?
_...Carlos!
_... Sr. Carlos! E sim, sou eu mesmo! Mas enfim, o que o senhor deseja? (sempre com um ar muito simpático)
_ Hum... então Sr, acho que lhe devo explicações, afinal o senhor me pegou abrindo o portão de sua casa. Hehe, bem, eu vim aqui porque ligaram pra nós dizendo que ouviram uma série de gritos muito altos a 3 dias atrás e, desde então, o senhor não foi mais visto fora de casa, a vizinhança estava preocupada com um cheiro forte que vinha da sua casa também.
_ Hum... entendo (um momento de seriedade)
_ Então... tá tudo certo?
_ Oh! Sim! Está tudo certo, sim! Hehehe, se eu te contar o que aconteceu você não acredita.
_ Ora, diga-me e vejamos se lhe dou um crédito, hehehe
_ Hehehe, acredita que eu estava consertando a descarga do vaso sanitário. Ele tinha entupido e joguei diabo verde pra desentupir, mas quando tentei dar a descarga ela resolveu parar de funcionar também, aí minha descarga é dessas antigas, sabe? Que fica em cima do vaso? Então, tive de subir no vaso pra arrumar a bendita, e aí que aconteceu. Acabei perdendo o equilíbrio, e por instinto segurei a cordinha da descarga que veio abaixo, quebrando tudo! Descarga, vaso, eu mesmo, hehehehe. E pra piorar o diabo verde começou a me corroer a perna, por isso dos gritos. Enfim, foi um dia tragicômico. Hehehe...
_ Meu deus, Seu Antonio, que dia, hein!
_ Pois é...
_ Bom, mas e por que o senhor sumiu?
_ Sumi? Não, não sumi não... hehehe, tanto que acabei de vir do açougue, hehehehe.
_ Hehe, tá bem... bom, desculpe a intromissão então, aí. E espero que dê um jeito no seu banheiro, logo. Prazer em conhecê-lo.
_ Obrigado Sr. Carlos.
_ Passar bem!
_ Até..!

Carlos saí devagar, observa meio de canto de olho o Sr. Antonio fechando o portão e entrar na casa, meio que mancando das duas pernas, achou meio estranho, mas associou logo a queda. Agora ele estava mais preocupado com o facto de ter de encontrar a dona Ruth e avisá-la que estava tudo bem. Não tava nem um pouco afim de ouvir todo aquele blá blá blá de novo. Parou em frente a casa e hesitou em tocar a campainha. Voltou-se para o carro e saiu de lá depois de algum tempo com um pedaço de papel, que colocou cuidadosamente por baixo da porta. Deu um suspiro de alívio misturado com coisa errada, mas ele realmente não tava pronto pra encarar aquele lero-lero de novo. Pegou seu rumo.

--

Passaram as semanas que viraram um mês, quando o telefone toca, como todo dia, na mesa de Carlos, na delegacia.

_ Alô?
_ Alô! Carlos, ligação externa pra você, disse que é urgente.
_ Pode transferir.
_ tshhhhh
_ Alô? Detetive Carlos?
_ Sim, eu mesmo. Com quem eu falo? (conheço essa voz...)
_ Carlinhos, é a Ruth! Lembra de mim?
_ Oh! Ruth! Claro, da ligação por causa do vizinho... (droga, não...)
_ É claro que lembra, né, meu bem? Não tem como esquecer da Ruthinha aqui. Hihihihi
_ Hehe (...)
_ Recebi seu recado, aquele dia, mas fiquei muito sentida, estava com o chá pronto, te esperando... Quando peguei o recado no chão, ainda deu tempo de abrir a porta e ver seu carro indo embora.
_ Ah, sim, é que não quis te incomodar, podia estar no banho, achei mais fácil deixar um bilhete e..
_ Sem problemas, Carlinhos! Tudo bem, tudo bem! Eu entendi muito bem! Eu sei que você ficou com medo de ceder aos meus encantos. Você não é o primeiro, meu bem!
_ ...ãhn, é... (QUE?!)
_ Tudo bem, não foi pra isso que eu liguei, eu respeito seu tempo. Eu liguei porque aconteceu de novo, Carlinhos, você acredita?
_ O quê?
_ O vizinho, os gritos, o cheiro, enfim, a mesmíssima história de antes, que você fez questão de NÃO ME EXPLICAR no bilhete. Logo, como não sei o que é, resolvi ligar de novo.
_ Fique tranquila, Dona Ruth, não há de ser nada, o Sr. Antonio me pareceu muito boa gente.
_ Tranquila eu estou, só esse fedor que não passa. E agora também tem aquele cachorro infernal que fica latindo e uivando a noite inteira, saco!
_ Hum... você chegou a tocar, lá, ver o que era?!
_ Moi!? Tocar aquela campainha fedida? Meu bem, eu nem passo perto daquela calçada!
_ Mas senh..
_ Senhora, não, Carlinhos, já conversamos disso! Quando você vem?
_ Hum, vou ver o que posso fazer.
_ Ah como assim? Me diga ao menos que dia pra eu poder mandar preparem um café pra você e...
_ Não sei, senhora.
_ Mas Carlinh...
_ Adeus, Dona Ruth. Preciso trabalhar.
_ Carli...!!
_
_

Desligar o telefone meio que na cara da mulher lhe deu uma boa sensação. Mas ao mesmo tempo subiu um angústia. Tinha simpatizado com o Sr. Antonio, parecia boa gente. Se sobrasse um tempo no final do dia ia aparecer por lá ver como estavam as coisas. E com um dia relativamente tranquilo, assim o fez.

Chegando lá, o frio subiu a espinha, ao ver urubus sobrevoando a casa do Sr. Antonio. E pra sua infelicidade, não teve como passar desapercebido pela Dona Ruth, que esperava qualquer um passar pela rua.

_Carliiiinhooos, sabia que você ia vir!
_ Senhora Ruth...
_ Veio ve..
_ Sim, sim, até mais!

Não tava com paciência pra ouvir fofoca de novo. Mas não adiantou.

_ Pera, pera, pera, pera aí!!
_ ...
_ Eu chamo o senhor aqui e você nem vêm me dar satisfação? Quem é que você pensa que é, hein?
_ Minha senhora, eu vim aqui, fora do meu horário de trabalho ver se está tudo bem com o Senhor Antonio. E só isso. Muito obrigado por ter me avisado. Passar bem.
_ Ora, mas que grosseria! Hunf!

E os dois seguem, batendo o pé. Igualmente irritados. Ela de volta pra casa, ele pro portãzinho marrom, dessa vez sem nenhum cachorro na frente.

_ Seu Antonio?
_ Seu Antonio? Tá aí?
_ Tudo certo aí?
_ SEU ANTONIO!? (e vai abrindo o portão)

Carlos vai entrando, dessa vez ele ainda sente o fedor. Ele conhece aquele cheiro. É carniça. Isso explica os urubus. Ele vai entrando calmamente, pra onde o cheiro vai se tornando mais forte. A casa tinha um corredor para o quintal e de lá ele escuta um choro de cachorro, “(é de lá que vem o cheiro! Esse cachorro é fedido demais) e se tranquilizou um pouco. Caminhando aos passos lentos, atento a qualquer barulho, ele escuta o som das patas do cachorro vindo em sua direção. Ele está mais sujo que o normal. E quando o cachorro dá a pata e ele passa a mão na sua cabeça. Tomando um susto ao ver a palma da sua mão toda vermelha. Ele sabe que é sangue.

_Sr. Antonio?

Continua a chamar, seguindo o cachorro, que vai um pouco a sua frente. Ele houve um gemido baixo. Aperta o passo. Entrando no quartinho dos fundos ele vê: Seu Antonio, jogado no chão, praticamente nú, todo ensanguentado.

_ Meu deus do céu! Senhor Antonio!
_ (gemidos)
_ Vou chamar uma ambulância!
_ cof, cof, não... cof...
_ Como assim senhor? Claro que eu vou chamar!
_ Espere, cof...
_ O que aconteceu, seu Antonio?!
_ Calme... eu...
_ Seus braços! Meu Deus!

Carlos percebe que os braços dele estão fatiados, faltando um pedaço mesmo, assim com suas pernas, suas coxas, sua panturrilha, está faltando pedaço em todos os membros do seu corpo. Só então ele observa algumas seringas o chão também. O sangue sai de seus braços. Seu Antonio está mais pálido ainda. Perdeu muito sangue. Ele não sabe se ele ainda pode ser salvo. Mas chama a ambulância mesmo assim. Enquanto seu Antonio varia entre o consciente e o desacordado.

_ Eu... eu...
_ Diga, diga, vamos converse comigo, o que aconteceu?
_ Eu... eu tenho um problema, sabe, Sr. Carlos.
_ O que é, Sr. Antonio?
_ Bom, eu me tratei, sabe? Muito tempo mesmo... Tava bem, mas aí me apareceu essa Dona Ruth.
_ Tratou do quê?
_ Ela chegou... e foi logo fazendo fofoca, dizendo que eu era maluco, que não saia de casa. Que eu era um nojento. Que eu não prestava. Eu não entendi nada.
_ ...
_ Assim que ela se mudou, fui dar-lhe as boas vindas. Ela se fez toda de dengosa, me chamou pra tomar um chá. Eu aceitei, achei ela toda charmosona. Sabe?
_ ...
_ Achei que podia dar em algo. Até eu falar que morava na casa da frente. Ela já meio que desconversou. Achou que eu fosse dá casa bonita do lado. Vagabunda...
_ Mas e...
_ Aí que começou, Sr. Carlos. Voltou tudo...
_ ...
_ Fiquei com muita raiva daquela fofocagem toda, não tinha problema ela me rejeitar. Mas não precisava ficar inventando mentira minha pros outros.
_ Não entendo...
_ E isso foi acontecendo e a vontade foi ficando cada vez maior.
_ Vontade de que, seu Antonio?
_ Foi crescendo e crescendo
_ ...
_ A vontade de comê-la
_ Mas seu Antônio, não entendo...
_ Sou antropófago, Sr. Carlos. Esse é meu problema. Não tinha vontades a muito tempo. Mas essa mulher me tirou do sério.
_ ...
_ E eu sei que não posso comê-la, para isso eu teria de matá-la, e Sr. Carlos, eu já me tratei eu juro, nunca mais fiz isso, foi só daquela vez. Eu não aguentava!!!
_ calma, Seu Antônio...
_ e a vontade não passava, eu tinha de comer a carne de algum jeito e não achei outro. Então fiz isso.
_ (pasmo com tudo, Carlos fica sem palavras)
_ Me anestesiava pra cortar esse bifes de mim mesmo, achei que ia passar, mas não passava. Então cortava mais, tava indo bem, mas nessa última anestesia não funcionou acho, desmaiei, não tinha forças pra levantar, cortei meus músculos...
_ Meu Deus do céu... (ouvia a sirene, talvez ele ainda pudesse ser salvo)
_ ...

A ambulância, chega e depressa os paramédicos colocam Sr. Antonio na maca. Carlos diz que ele se cortou sem querer, omitindo toda a história. Acompanha os médicos levando Sr. Antonio até o carro quando ele lhe olha nos olhos de Carlos e diz “Obrigado”, tentando sorrir.

Carlos fica ainda alguns minutos na casa, enquanto o cachorro lambe um resto de sangue no chão do quartinho. Carlos pensa em muitas coisas nesse tempo.

Ao sair da casa, encontra Dona Ruth:

_Carlinhos, que algazarra é essa?

Ele nem consegue responder. Segue em frente, quieto. Seu estômago embrulha. Ela o enoja. Seu fedor é pior que qualquer outro.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

no meio fio




    andavam, se equilibrando:

    - por que você não anda com os braços abertos?
    - ué... porque eu haveria de andar?
    - é muito melhor! você têm mais equilíbrio, não vai cair desse jeito
    - ...
    - ...
    - ...
    - que foi?
    - nada, ué...
    - porque não levantou os braços?
    - gosto de andar com os braços pra baixo...
    - ...
    - ...
    - ...
    - o que foi você, agora?
    - mas que saco! não falei que é melhor erguer os braços pra se equilibrar?
    - é...
    - então!
    - eu gosto de andar com os braços pra baixo.
    - ...
    - ...
    - e se você cair?
    - ...
    - eu não vou te segurar...
    - ...
    - ...
    - ...
    - fala alguma coisa...
    - ...
    - ...
    - eu prefiro andar desse jeito, não tô dizendo que o seu jeito é melhor ou pior que o seu, é só o jeito que eu gosto...
    - eu entendi... mas é que eu...
    - não tem certo ou errado, sabe? não precisa ficar irritado comigo...
    - ...
    - ...
    - eu sei... desculpa, é que...
    - ...
    - ...
    - ... tá tudo bem...



    e chegaram os dois, sem cair nem um sorriso.